Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. I Coríntios 2:2.

Johannes Tauler (1300-1361) nasceu em Strassburg, Alemanha. Ele foi um dos mais proeminentes representantes do misticismo medieval alemão, e um dos maiores pregadores do seu tempo. Fez muito para preparar o caminho para Lutero e a Reforma. Seu dom de pregador era tão grande que “toda a cidade pendia de seus lábios”. Certo dia, Tauler ficou muito surpreendido quando um humilde suíço, pertencente à Sociedade dos “Amigos de Deus”, chamado Nicolas de Basle, atravessou as montanhas, entrou no seu lugar de culto, e lhe disse: “O senhor precisa morrer, Dr. Tauler! Antes que possa fazer o seu maior trabalho para Deus, para o mundo e para esta cidade, o senhor precisa morrer para si mesmo, para seus dons, sua popularidade e até mesmo sua bondade, e quando tiver aprendido o total significado da cruz, terá um novo poder junto a Deus e aos homens”. (Obra Cristã – A maturidade).

A princípio ele ficou ofendido com esta intromissão, mas por fim, deixou seu púlpito por algum tempo e se recolheu para meditar, orar e examinar o seu próprio coração. Na medida em que a visão se tornou mais clara, ele veio a reconhecer o quanto do seu ministério tinha sido inspirado pelo desejo inveterado de impressionar, visando manter e aumentar o seu próprio prestígio, e não simplesmente por amor a Cristo. Acabou finalmente por deixar a “glória da vida morta” na Cruz, e resolveu ter um objetivo, e apenas um: Jesus Cristo e Este crucificado. A partir daquele momento sua pregação começou a ajudar as pessoas como nunca o fizera antes, preparando o caminho para Lutero e a Reforma. Mediante a experiência de Tauler perguntamos, Você já morreu? Lamentavelmente muitos estão trabalhando para Deus, mas não em Deus. Na verdade, não se trata do agir da nova vida, mas é a velha vida em ação. Conta-se que um determinado pregador repetia do seu púlpito várias vezes: Paulo disse: Eu estou crucificado com Cristo... De repente o Espírito Santo sussurrou em seus ouvidos, dizendo: E você está crucificado com Cristo? Neste momento ele confessa: Eu também estou crucificado com Cristo.

Por que Paulo se recusou a pregar a palavra da cruz com sabedoria natural? Para que a palavra da cruz não se tornasse ineficaz, pois a cruz é um fato. Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. I Coríntios 2:1-5. Precisamos investigar: o que nos qualifica a pregar a cruz? Será que pregamos por estarmos profundamente familiarizados com as doutrinas bíblicas, por sermos capazes de apresentá-las com eloqüência ou, pelo fato de pregar ser nossa profissão? Quantos, hoje em dia, são cegos a guiar cegos! Muitos pregadores só sabem de que forma propagar o conhecimento, mas estão desprovidos de vida divina.

Atualmente a Igreja sofre grandes perdas, e estas perdas não se devem à oposição externa ou à incredulidade interna, mas aos muitos que confessam ter “grande fé” e professam que têm o chamado de Deus, quando na verdade, Deus nunca os enviou para tal tarefa. Vamos considerar um dos tipos de Cristo do Velho Testamento, A oferta pacífica: Se a sua oferta por sacrifício pacífico ao Senhor for de gado miúdo, seja macho ou fêmea, sem defeito a oferecerá. Levítico 3:6. Vamos admitir um diálogo entre o sacerdote e o ofertante: O ofertante entrega o novilho ao sacerdote. Este por sua vez, ao examiná-lo, fica admirado pela beleza do animal, um animal perfeito, sem mancha. Então, o sacerdote resolve não matá-lo, e diz para o ofertante: este animal é muito lindo, vamos poupá-lo. Eu o colocarei para dentro do tabernáculo. Os dois concordam com o feito. Agora, a pergunta que podemos fazer, é esta: O que este animal vivo vai fazer dentro do tabernáculo? Fica na sua imaginação.

Há muitos “sacerdotes” vivos dentro das igrejas. E, se estão vivos, o que eles vão fazer? Barulho, confusão, divisão, assim como o animal que foi colocado vivo dentro do tabernáculo. A sujeira que o animal promove no ambiente é semelhante aos danos causados por quem ministra sem passar pelo Altar. Isto acontece porque, antes do Ide, tem que existir o Vinde: Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Mateus 4:18-19. Antes de qualquer tarefa precisamos ir ao Senhor, caso contrário, qualquer coisa feita sem Ele, não passará de obras mortas. Neste ministério da proclamação do Evangelho tem que ter as marcas da cruz. E todo aquele que foi chamado por Deus só poderá atender o “ide” quando passar pela morte e ressurreição. Muitas vezes, observando alguém que demonstra conhecimento, imaginação e habilidade, somos levados a pensar que este poderia ser realmente usado nas mãos Deus. Contudo, mesmo que possua conhecimento, habilidade e talento, ele não é nada nas mãos de Deus, pois, para Deus, tudo isto tem que morrer. Tudo o que pertence ao domínio natural é imprestável, nada vale diante de Deus. O apóstolo Paulo, mais do ninguém, tinha um currículo de fazer inveja, mas foi lançado por “terra” quando a Luz o abateu.

Observe o que ele mesmo disse: Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Filipenses 3:4-9.

De Saulo para Paulo, Eis como George Matheson descreve a experiência do apóstolo: Senhor, prendeste-me na estrada de Damasco; transformaste a autoconsciência em humildade. Lancei-me à jornada transbordando de confiança em mim mesmo; não sentia qualquer obstáculo, não experimentava qualquer dificuldade. De repente, numa volta do caminho minha alma paralizou-se. A confiança feneceu. O mundo não mais se me apresentava como um campo de prazer. Uma sombra estendeu-se sobre a cena, e não podia mais encontrar o caminho. Tudo aconteceu por causa de um encontro com um homem – um homem de Nazaré. Antes de defrontá-Lo, meu orgulho pessoal era incomensurável. Meu coração clamava: “Escreverei meu próprio destino”. Mas um simples olhar ao homem de Nazaré me prostrou. Minha glória imaginária transformou-se em cinzas; minha pretensa força tornou-se fraqueza; bati em meu peito e gritei: “imundo!” Devo queixar-me por ter encontrado aquele homem? Devo chorar porque um raio de luz numa esquina lançou toda a minha grandeza na sombra? Não, Pai, pois a sombra é o reflexo do resplendor. Foi por ter visto a Tua beleza que a humanidade se ofuscou. Foi o crescimento que me tornou humilde. Contemplei por um momento um ideal perfeito e seu brilho eclipsou minha lâmpada. Não é a noite, mas o dia, que me torna cego quanto àquilo que possuo. É a luz que me faz odiar a mim mesmo. É o sol que revela minha imundície. É a aurora que me fala das minhas trevas. É a manhã que descobre minhas vestes insignificantes. É o brilho que mancha meus trajes. É a claridade que enumera minhas nuvens. Ó Deus, meu Deus, só perco o meu caminho quando iluminado por Ti!

Este é o princípio pertinente ao trabalho de Deus: tudo o que ainda não passou pela cruz e não foi levantado dos mortos não é utilizável. Que Deus, em Sua infinita graça não permita que venhamos a realizar qualquer coisa pelas nossas habilidades, mas pela vida que surgiu da morte. Amém!

Por: Humberto Xavier Rodrigues